O pericárdio é a estrutura que envolve o coração em sua maior área, exceto o átrio esquerdo. Ele é dividido em três partes, sendo elas a visceral, serosa e parietal.
A pericardite pode estar presente como um quadro agudo ou como um quadro crônico, normalmente associado com doenças autoimunes.
Na maioria das vezes possui um curso autolimitado, benigno e não necessita de grandes intervenções para o seu controle, somente para o controle da dor.
Embora possua importante função cardiovascular, um indivíduo que precise retirá-lo consegue sobreviver pois ele não é essencial.

Funções
As funções do pericárdio se enquadram basicamente em dois grupos: estabilizadora e protetora.
Ele mantém o formato do coração, promovendo uma maior interação entre as câmaras cardíacas
Previne o enchimento excessivo do coração
Reduz o atrito entre o coração e as estruturas adjacentes
Limita o deslocamento do coração
Serve como barreira contra infecções
Classificação clínica das pericardites
Pode ser aguda, com evolução de 4 a 6 semanas.
Pode ser incessante, com evolução de 6 semanas a 3 meses.
Pode ser crônica, com evolução superior a 3 meses.
- Pericardite aguda
Possui evolução de 4 a 6 semanas.
Pode ocorrer isoladamente ou secundária a alguma doença, como infarto agudo do miocárdio, neoplasias, terapia com radiação, doenças autoimunes ou secundárias a cirurgia cardíaca.
Pode ser bacteriana, com transmissão por contigüidade, comum em imunodeprimidos e pode estar associada à sepse.
O diagnóstico da pericardite aguda é feita perante a presença de 2 critérios, sendo eles:
Dor torácica – normalmente de início súbito, retroesternal, podendo irradiar para o membro superior esquerdo, ombro e trapézio, melhora quando o paciente está inclinado para frente pois desloca o coração da região mais inervada (que causa mais dor)
Atrito pericárdico durante a ausculta – melhor audível no final da expiração pois é quando o coração recebe maior retorno venoso. Pode desaparecer se houver derrame pericárdico, que afasta as camadas e diminui o atrito presente.
Presença de derrame novo ou piora de um pré existente visto através do ecocardiograma.
Alterações no eletrocardiograma – supradesnivelamento difuso do segmento ST, presença de onda T isquêmica (figura 2).

As complicações da pericardite mais freqüentes são recorrência do quadro e formação de derrame pericárdico que pode resultar em tamponamento cardíaco.
- Pericardite recorrente
É a complicação mais comum da pericardite aguda e normalmente a fisiopatologia é autoimune. Outras causas também podem ser: pós pericardiotomia, pós infarto agudo do miocárdio, tuberculose.
Pode ser classificada como intermitente se o intervalo entre as crises for de 6 semanas ou incessante se o intervalo entre as crises for inferior a 6 semanas.
O diagnóstico é feito pela recorrência de alterações no eletrocardiograma, elevação dos marcadores de inflamação, atrito pericárdico na ausculta, leucocitose, formação de um novo derrame ou aumento de um pré existente.
- Derrame pericárdico
As possíveis etiologias são: viral, idiopática, neoplasias, uremia, tuberculose, doenças reumatológicas, síndrome da injúria do pericárdio, hipotireoidismo, dissecção da aorta.
Caso o derrame se instale lentamente (derrame de evolução lenta), a pressão aumenta aos poucos, então há pouca resposta hemodinâmica até uma determinada quantidade de volume (até 2 litros). Caso o derrame se instale rapidamente (derrame de evolução rápida), a pressão aumenta muito rápido, ocorre grande resposta hemodinâmica, resultando em tamponamento cardíaco.

Quadro clínico do derrame pericárdico
Na ausência de tamponamento, os sinais clínicos são pouco específicos.
Grandes derrames causam bulhas hipofonéticas pois criam um anteparo entre o fechamento valvar e a ausculta cardíaca.
Sinais de Ewart – há uma área de macicez na base do pericárdio pois um grande volume comprime pulmão e cria área atelectásica, diminuindo o som da percussão (figura 4).
Coração em moringa na radiografia – alteração da morfologia do coração, formato mais triangular (figura 4).
‘’Swinging heart’’ – no eletrocardiograma evidencia-se amplitudes diferentes devido ao coração se aproximar e se afastar do transdutor pela grande quantidade de volume formado.

- Tamponamento cardíaco
Consiste em uma síndrome com comprometimento hemodinâmico devido a compressão do coração por derrames pericárdicos que se instalam com evolução rápida ou com volumes superiores a 2 litros.
As causas mais comuns são: neoplasia, pericardite idiopática, insuficiência renal, pós cirúrgia.
O quadro clínico mais encontrado é definido pela tríade de Beck, que é composta por turgência jugular, hipotensão e abafamento das bulhas cardíacas.
O tratamento é feito através da pericardiocentese (punção acompanhada por exame de imagem para realização de citologias e culturas), cirurgia aberta ou videoscopia.
Referências:
FRIEDMANN, Antonio Américo. Diagn Tratamento. 2017;22(3):119-20. Disponível em: http://docs.bvsalud.org/biblioref/2017/08/848013/rdt_v22n3_119-120.pdf
JAMESON, ET al. Medicina interna de Harrison. 20ª edição. Porto Alegre: AMGH Editora Ltda, 2020.